PayPal congela quase R$500 mil de programador da Steam e revolta comunidade gamer

Imagine dedicar anos a um projeto, lançar um jogo com sucesso na Steam e, de repente, ver todo o dinheiro conquistado desaparecer. Foi o que aconteceu com um programador britânico que perdeu acesso a mais de £80 mil (quase R$500 mil) após o PayPal congelar sua conta sem aviso.

O caso levantou um debate urgente: até onde uma empresa financeira pode decidir o que é aceitável na economia digital? E quem protege os criadores quando o pagamento por meses de trabalho é simplesmente bloqueado?

O que aconteceu com o programador?

Em julho de 2025, o desenvolvedor relatou no Reddit que sua conta no PayPal foi bloqueada porque ele participou da criação de um jogo adulto lançado legalmente na Steam. Mesmo sem promover nada ilegal, a plataforma alegou violação de suas regras por envolver material “sexualmente orientado”.

O mais controverso é que o dinheiro não veio de vendas diretas no PayPal. O saldo congelado era resultado dos repasses da própria Steam, que paga os lucros aos criadores. Ou seja, o programador só usava o PayPal como meio de recebimento internacional. Ainda assim, perdeu o acesso ao valor acumulado.

Essa não foi a primeira vez que ele enfrentou problemas. Outros serviços financeiros, como Wise e Revolut, já haviam fechado suas contas pelo mesmo motivo. O PayPal parecia a alternativa mais estável, até que decidiu bloquear todo o valor sem dar um canal claro de recurso.

As regras do PayPal e o tabu dos jogos adultos

A política de uso aceitável do PayPal proíbe transações ligadas a “conteúdos de orientação sexual”, principalmente quando entregues em formato digital. Isso inclui vídeos, imagens e jogos.

Embora a empresa diga avaliar cada caso individualmente, não explica como toma essas decisões. Basta um rótulo “Adults Only” para que contas sejam bloqueadas. Isso gera insegurança para desenvolvedores que trabalham legalmente, mas acabam tratados como se fossem criminosos.

A medida afeta toda uma comunidade de criadores independentes, muitos deles com orçamentos pequenos. Esses jogos nem sempre se resumem a pornografia, e podem explorar temas como identidade e relacionamentos. Mesmo assim, são colocados no mesmo grupo e sofrem restrições financeiras severas.

Por que isso vai além de um único caso?

Desde 2023, diversas plataformas digitais apertaram o cerco contra títulos com conteúdo adulto. A própria Steam tornou o processo de aprovação mais rigoroso. No entanto, há uma diferença importante: a Steam ainda permite recurso. O PayPal, por outro lado, age como se fosse juiz e banco ao mesmo tempo, decidindo se um criador pode ou não receber pelo seu trabalho.

Isso gera um efeito perigoso. Se desenvolvedores vivem com medo de perder tudo, muitos deixam de investir em novas ideias. Enquanto isso, criadores de conteúdo no YouTube e na Twitch continuam a lucrar ao exibir esses mesmos jogos, sem enfrentar bloqueios financeiros. O paradoxo é evidente: quem cria o conteúdo é punido, e quem apenas transmite se beneficia.

O futuro dos jogos adultos na economia digital

A incerteza domina o setor. A mistura de moralidade, algoritmos e políticas pouco transparentes coloca artistas independentes em risco constante. E o bloqueio de £80 mil desse programador mostra como decisões unilaterais podem destruir meses de trabalho.

Alguns buscam alternativas como criptomoedas e plataformas descentralizadas, mas nem todos conseguem migrar para esses modelos. A maioria ainda depende de intermediários tradicionais, o que os torna vulneráveis a regras arbitrárias.

É importante lembrar que jogos, inclusive os adultos, são uma forma de expressão artística, assim como livros e filmes. Reduzir todos à categoria de pornografia sufoca a inovação e ignora seu valor cultural.

O desafio agora é abrir espaço para diálogo entre criadores, plataformas e reguladores. Congelar ganhos de um profissional que seguiu todas as leis não é uma forma de segurança: é censura econômica. Proteger esses desenvolvedores significa proteger a diversidade e o futuro dos jogos digitais.

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