Uma startup britânica surpreendeu o mercado ao anunciar o primeiro computador quântico construído com chips de silício padrão. A Quantum Motion alcançou esse marco usando materiais já dominados pela indústria eletrônica, o que pode acelerar a chegada da computação quântica em escala comercial. Além disso, o projeto reduz custos e aproxima a tecnologia de um uso mais amplo.
Como a tecnologia nasceu
O sistema da Quantum Motion utiliza a mesma técnica aplicada em praticamente todos os eletrônicos modernos: a tecnologia CMOS, conhecida como “Complementary Metal Oxide Semiconductor”. Esse processo, presente em celulares, notebooks e câmeras, se tornou popular porque consome menos energia quando o chip não está em operação. Agora, pela primeira vez, engenheiros adaptaram esse método para um computador quântico funcional.
Antes disso, os computadores quânticos dependiam de materiais caros e difíceis de fabricar. Com o silício, empresas podem explorar fábricas já existentes e produzir máquinas quânticas de maneira mais acessível.
Um computador compacto e poderoso
Apesar do enorme poder de processamento, o novo modelo se destaca pelo tamanho reduzido. Todo o sistema ocupa apenas três racks de servidor padrão de 19 polegadas. Neles estão os equipamentos que mantêm os qubits em temperaturas extremamente baixas, condição essencial para o funcionamento da máquina.
Outro diferencial importante aparece na compatibilidade. O computador vem com processador quântico (QPU), softwares de controle e interfaces que funcionam com ferramentas conhecidas como Qiskit e Cirq. Dessa forma, desenvolvedores podem programar algoritmos complexos e traduzi-los em operações reais no hardware.
Qubits de spin: como eles funcionam
A inovação aposta em qubits de spin. Eles armazenam informação no giro natural de elétrons individuais. Como são feitos de silício comum, podem ser produzidos em larga escala sem exigir materiais raros. Além disso, oferecem propriedades fundamentais: a superposição, que permite representar vários estados ao mesmo tempo, e o emaranhamento, que conecta qubits de forma instantânea.
Essas vantagens, no entanto, vêm acompanhadas de fragilidade. Variações mínimas de temperatura ou interferências eletromagnéticas afetam facilmente a estabilidade dos qubits. Por isso, os sistemas precisam de condições extremamente controladas.
Por que o silício pode mudar tudo
O maior trunfo da Quantum Motion está na escolha do silício. Esse material já movimenta uma indústria global com fábricas experientes, processos confiáveis e alta capacidade de produção. Como resultado, torna-se possível reduzir custos e construir máquinas mais potentes sem reinventar toda a base tecnológica.
A empresa afirma que a arquitetura modular permite atualizar partes do sistema sem trocar o hardware inteiro. Assim, o modelo abre caminho para alcançar a chamada “vantagem quântica”, quando computadores quânticos superam os supercomputadores convencionais em tarefas reais.
Desafios para a escalabilidade
Mesmo com o avanço, a computação quântica ainda enfrenta barreiras. O principal problema é a decoerência, fenômeno que faz os qubits perderem suas propriedades rapidamente. Para resolver essa questão, pesquisadores vêm testando novas soluções. Um estudo recente com chips de silício de 300 mm alcançou taxas de acerto de 98% em operações com dois qubits. Esse resultado mostra que a indústria já consegue atingir níveis considerados altos de confiabilidade.
Com essa base, especialistas acreditam que projetos de correção de erros podem se tornar viáveis. Essas técnicas são fundamentais para criar sistemas mais robustos e menos sujeitos a falhas, o que abre espaço para aplicações práticas em áreas como finanças, química e inteligência artificial.
Um futuro mais próximo
Embora computadores quânticos domésticos ainda estejam distantes, o modelo da Quantum Motion representa um marco. Se as fábricas conseguirem produzir chips quânticos com os mesmos métodos usados em chips tradicionais, a revolução pode chegar antes do previsto. Dessa forma, empresas de tecnologia e centros de pesquisa passam a enxergar a computação quântica como uma possibilidade real, não apenas um experimento de laboratório.